Lista de Países que estão a contratar portugueses

  • Publicado a 31 de Janeiro de 2012

Há países sedentos de talento e em que há muitas oportunidades de emprego. Octávio Oliveira, presidente do IEFP, revela quais.

Há países sedentos de talento e em que não faltam oportunidades para os trabalhadores portugueses. Numa altura de crescimento do desemprego em Portugal, a opção pode muito bem ser fazer as malas e ir para outras paragens. Octávio Oliveira, presidente do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), revela, em entrevista ao Económico TV, quais as áreas mais procuradas e os países onde ainda há oportunidades. Mas no mercado português ainda há oportunidades nas empresas que apostam na exportação e também no sector do turismo.

Dado o contexto de crise que se vive no País e que aponta para o aumento do desemprego, quais são os sectores em que as pessoas devem apostar para conseguir um lugar no mercado de trabalho, este ano?
Mais importante que os sectores é apostarem nelas próprias e acreditarem que têm competências. Devem fazer um diagnóstico dessas mesmas competências e dos seus próprios pontos fortes e fracos e avaliar, no confronto com o mercado, recorrendo ao apoio do IEFP e dos nossos centros de emprego, que ofertas e soluções estão disponíveis. Podem não ser imediatamente soluções ao nível do estabelecimento de uma relação laboral, mas, por exemplo, para os relativamente jovens há a possibilidade de recorrerem a um estágio que lhes permita a integração. Relativamente aos sectores, naturalmente, os que estão associados à procura interna serão aqueles em que as dificuldades serão maiores ao nível de geração do emprego.

Devem procurar-se empresas que estejam a apostar no mercado da exportação?

Naturalmente. Nos últimos anos o sector têxtil e o do calçado, por exemplo, conheceram fortes ajustamentos e, felizmente para o país, conseguiram marcar pontos na exportação, em termos de afirmação dos seus perfis de competitividade e, portanto, são sectores que neste momento estão a gerar postos de trabalho. Apesar do sector da hotelaria e turismo conhecer algumas dificuldades por força da retracção do mercado interno e também de algumas oscilações de alguns mercados externos, é ainda um sector que apresenta uma capacidade de geração de empregos, naturalmente com alguma sazonalidade; também algumas indústrias ligadas ao sector automóvel. Eu diria que, de uma forma genérica, os sectores com um perfil exportador serão aqueles que estarão menos vulneráveis à retracção do mercado interno e onde a geração de postos de trabalho vai acontecer e que, à partida, apresentarão melhor potencial.

Que países é que, neste momento, estão a recrutar portugueses?
Diria que essa é uma solução normal, natural e estrutural. Ou seja, vivemos num espaço europeu, que é um espaço que sempre se pretendeu de livre circulação de trabalhadores e de pessoas e portanto é natural que um português, seja ele jovem ou menos jovem, quando está numa situação de procurar emprego, tenha uma abordagem não circunscrita ao território nacional, mas ao espaço europeu. E, neste momento, as diligências que estão a ser feitas a nível das instâncias da União Europeia vão no sentido de reforçar todas as intervenções que estimulem e que consagrem esses princípios. Os serviços públicos de emprego dos Estados-membros têm o programa EURES, que, neste momento, tem apresentado interessantes realizações neste domínio e o objectivo é que, nos próximos anos, seja efectivamente um instrumento importante de consagração da mobilidade de trabalhadores em países europeus. Os nossos serviços, através dos centros de emprego e da rede EURES, têm concretizado situações em intercâmbio e em relação com outros serviços públicos de outros Estados-membros, por exemplo de engenheiros e de profissionais da área das Tecnologias de Informação para o Reino Unido, Suécia, Finlândia, Noruega, de enfermeiros também para o Reino Unido, França, Noruega e Suíça. De psicólogos clínicos para a Noruega, França, Bélgica e Holanda. Profissões ligadas à construção civil e às obras públicas. A própria Espanha, nos últimos tempos, conheceu aqui uma grande retracção, mas tivemos também interessantes contratações, por exemplo, ao nível da animação turística desportiva e hotelaria. Para sintetizar, diria que a nível de França tem havido um potencial relativamente a profissões na área da hotelaria, recepção, portaria, cozinheiros, ajudantes de cozinha, empregados de balcão e de mesa.

Os trabalhadores portugueses são bem vistos no mercado internacional….
Há a noção de que há factores que facilitam esta integração de portugueses nestes mercados, até porque um dos factores importantes é já terem referências ou de pessoas conhecidas ou de familiares nestes países. Não nos podemos esquecer que no Luxemburgo, por exemplo, 16% da população é portuguesa e, portanto, há aqui um factor de integração importante facilitador, para além de outros factores intrínsecos à nossa condição. Somos, por norma, pessoas com facilidade na aprendizagem de línguas, apresentamos um nível muito interessante de inglês, em especial os nossos diplomados, a nossa capacidade do desenrascanço pode ser vista numa outra lógica como sendo um povo com características de grande adaptabilidade, de grande flexibilidade, que hoje são requisitos importantes para esta integração em espaços com outras culturas. Portanto, é um conjunto vasto de oportunidades que, de certa maneira, estão em consonância com as nossas características e que deve ser encarado com naturalidade e não com aquela perspectiva de partir para sempre, quer dizer, hoje, tal qual como não há uma oportunidade para toda a vida também não há um país para toda a vida.

O primeiro-ministro referiu que os docentes devem emigrar. Haverá países disponíveis para os receber?
O nosso sistema universitário tem gerado, nos últimos anos, um número apreciável de diplomados com saídas para a profissão docente. Hoje temos um contexto demográfico em que o número de jovens nas nossas escolas é cada vez menor. É evidente que uma fatia significativa de inscritos nos ficheiros dos centros de emprego tiveram uma actividade ligada à docência. Hoje há um conjunto de países como Angola e Moçambique que podem apresentar oportunidades para essas pessoas. São oportunidades que cá estão esgotadas e que podem ser aproveitadas. Fundamentalmente, a atitude deve ser de inovação de todos nós. Por parte dos serviços públicos de emprego em encontrar novas soluções que facilitem o ingresso no mercado de emprego. Também da parte das pessoas que estão desempregadas haver uma perspectiva inovadora do confronto dos seus requisitos, um diagnóstico de pontos fortes e fracos e o estabelecimento de uma estratégia de inovação na qual o serviço de emprego pode e deve ajudar.

Houve um aumento de 27% do desemprego entre os diplomados. Países como Angola e Brasil devem ser uma hipótese?
Penso que são países a considerar. Mas também é necessária uma atitude activa e não uma atitude passiva à espera que a solução apareça. Tem que ser o próprio a ter uma atitude activa e a encontrar a solução, não é só inscrever-se no centro de emprego, isso é pouco …

Acha que Angola, Moçambique e Brasil são hipóteses a considerar?
Admito que o mercado angolano em matérias de educação possa ter hipóteses.

Noutras áreas como as engenharias?
O Brasil, a nível das arquitecturas e das engenharias, tem um grande conjunto de oportunidades. Não nos podemos esquecer que o Brasil vai ter, nos próximos três anos, um campeonato do mundo de futebol e os Jogos Olímpicos, que estão a mexer fortemente com toda a sociedade brasileira, em termos de investimentos directos e indirectos num conjunto de infra-estruturas que têm a ver com a realização destes eventos. Para além do natural crescimento desses países que têm taxas de crescimento muito elevadas expectáveis para 2012.

E alguns destes jovens diplomados devem tornar-se empreendedores. A criação de empresas não é uma varinha mágica que resolve os problemas, mas deve resultar de uma avaliação de diagnóstico.

Existem programas de apoio para jovens que queiram criar a sua própria empresa?
Há programas do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) para apoiar a criação de empresas e admito que haverá mais iniciativas a muito curto prazo, iniciativas que estimulem esta actividade empreendedora. Hoje em dia, grande parte dos empregos criados nas sociedades ocidentais, em especial na Europa, é criada por novas empresas e micro-empresas.

Existe uma desadequação dos cursos de ensino superior às necessidades do mercado de emprego?
É inegável que existe um desencontro que tem a ver com o nosso sistema educativo, a nível profissional e superior. O nosso sistema de ensino universitário tem estado arredado de uma percepção da utilidade social da formação que desenvolve. Não podemos empregar o conceito de empregabilidade ‘stricto sensu’, porque o sistema universitário não visa apenas formar para a empregabilidade, mas há um outro conjunto de valências de natureza cultural e de investigação. Mas penso que o sistema de ensino superior terá que ter uma lógica de perceber qual a utilidade social do seu processo que é produzir e reproduzir saber. Essa utilidade é dada aos diplomados. Temos tido décadas de completo desfasamento entre a organização deste sistema e as saídas que geram e as necessidades da economia e da sociedade. Temos hoje um conjunto de diplomados em determinadas áreas claramente superavitário em relação às necessidades do país e da sociedade e isso é um processo com custos sociais importantes, porque frustra famílias que utilizaram as suas poupanças para a formação destes jovens, delapida recursos públicos que poderiam estar utilizadas noutras actividade de interesse social e também os próprios jovens que se sentem defraudados por não terem o retorno do investimento que fizeram.

 

Áreas de procura

Engenheiros e profissionais de Tecnologias de informação
– Reino Unido, França, Suécia, Finlândia, Noruega, Brasil.

Enfermeiros
– Reino Unido, França, Noruega e Suíça.

Psicólogos clínicos
– Noruega.

Construção civil e obras públicas
– Brasil, França, Bélgica e Holanda.

Animação Turística, desportiva e Hotelaria
– Espanha, França

Arquitectos e Engenheiros
– Brasil e Alemanha.

 

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